Josimar Henrique | ||
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Os tantos Brasis
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Nos anos 50, dizia-se haver dois Brasis. Um, urbano, costeiro, de frente para o mar. Outro, muito maior, representado por tudo que era chamado de interior. Na colonização do Brasil, Portugal precisou trazer africanos para dar conta de ocupar as extensões do país. Mesmo a população nativa e a lusitana transportada, não eram suficientes para dar conta do território que a coroa portuguesa queria para si. Dentro deste mesmo princípio de integração e ocupação, a capital federal foi transferida para o centro do país. Hoje, mais de meio século depois, há outro Brasil. Na verdade, há tantos Brasis que é preciso saber por onde começar. Se lá atrás era um país de futuro, hoje é um país no futuro. Nas dez principais economias do mundo, o país está inserido. Nas dez principais economias da América Latina, pode inserir-se quatro vezes. Primeiro como a maior economia entre os países latinos. Depois, desmembrado, a região sudeste do país estaria na posição de terceira economia. O Estado de São Paulo entre a quarta e quinta economia. E a cidade de São Paulo entre as dez principais economias. Hoje, a população vive predominantemente em cidades. São 5.564 cidades (70% falidas, mercê de uma distribuição vinda da União que faz qualquer proposta de reforma tributária ser falaciosa, pois envolveria mexer no modelo de federação). Diferente dos anos 50, quando o Brasil maior vivia disperso no campo. A classe média brasileira, em especial aquela com maior renda per capita, a do sudeste, é maior que a população da França. Há uma França, uma das quatro maiores economias do mundo, dentro de nós. Isto é, somos a terceira economia das Américas. Uma das dez principais do mundo, com uma população, em valores de riqueza e capacidade de consumo, maior que a soma dos franceses. Assim, toda vez que pensamos em nos internacionalizar, pensamos que, antes de tudo, internacionalização é estar em todo o território brasileiro. Se ainda avançamos lentos em um modelo de infra-estrutura para o país, por outro lado é certo que, qualquer motivação neste sentido, tem feito a diferença. Não apenas projetos estruturadores, mas também a disseminação de indústrias, comércio e serviços de micro, pequeno e médio porte em todas as regiões. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e algumas faculdades, como a Fundação Getúlio Vargas, têm mapeadas e estudadas aproximadamente 30 cadeias produtivas no Brasil. Se a capital do país foi transferida para o centro com o objetivo de corrigir os desequilíbrios, o movimento precisa continuar. Cito dados recentes do Conselho Federal de Medicina. A região sudeste brasileira, terceira maior economia da América Latina, possui 42% da população do Brasil e 55% dos médicos. São 439 habitantes por profissional. A cidade de São Paulo, uma das 10 maiores economias do continente latino, possui um médico para cada grupo de 239 habitantes, média superior à de países como Alemanha (285), Bélgica(248) e Suíça(259). O estado de São Paulo possui um profissional para cada 413 habitantes, os Estados Unidos 411. A melhor média por estado está no Distrito Federal, com um médico para cada 297 habitantes. Para estes, os padrões são de países ricos. As desigualdades ainda estão no norte ( 88%, ou 3.024, médicos do Amazonas estão em Manaus, fazendo com que a cidade tenha um médico para cada 574 habitantes, enquanto as cidades do interior tenham um médico para cada 8.944 habitantes. Em Roraima, chega a 10.306 habitantes por médico. Em Minas, enquanto BH tem um médico para cada 172 habitantes, o resto do estado tem um profissional para cada 926 pessoas. E por aí vai). O país está em movimento e, se a ação vier de uma política educacional integrada a outras pastas ministeriais, à sociedade e ao mercado, mais rápido do que é o costume essas desigualdades se dissiparão. Sabemos que quase 80% dos empregos do país são gerados por micro, pequenas e médias empresas. Mas a Fundação Dom Cabral, em estudo, relata que 70% das maiores empresas do país se queixam da falta de mão de obra qualificada. Isto é, ensino médio e universitário irregulares, aquém das necessidades do mercado. Há dezenas de faculdades de direito, marketing, propaganda, enfermagem e relações internacionais no bolsão do ensino privado que representa quase 80% da educação superior no país. Diminuem os números de candidatos a engenharia, em um país que precisa de engenheiros. Decai o número de médicos interessados na especialização de pediatria. Desaparece o interesse pela formação de professores de química, física, matemática e biologia para o ensino fundamental e médio. O Movimento Todos pela Educação avisou que se dirigem para o ensino básico do país os mais desqualificados alunos do ensino superior. Correções que devem ser vista com ações em conjunto. A General Eletric anunciou que o Brasil, o sudeste do Brasil, vai abrigar um de seus centros de desenvolvimento de soluções tecnológicas, com investimento inicial de R$ 300 milhões. A Microsoft anunciará ainda neste ano a construção de um mega Data Center, provavelmente no sudeste, para administrar informações e dados internacionais, através da tecnologia de computação nas nuvens. Uau!, vamos dizer, com otimismo. É verdade. Mas vale lembrar que países como China e Índia recebem esses centros há uma década, o que, sem dúvida, faz a educação de um país se deslocar do interesse por concursos públicos para a melhoria e formação de técnicos e cientistas. A China recebe investimento em manufatura, mas exige a montagem de centros de excelência para que seus engenheiros possam fazer desenvolvimento. Faz se deslocar desses cursinhos universitários de baixa categoria para a formação de químicos, farmacêuticos, engenheiros, matemáticos e toda sorte de profissionais qualificados que representam soluções para o presente e para o futuro do país. Com mais de 60% das riquezas do país concentradas em seu território, o sudeste brasileiro é a Europa dentro do Brasil. Se há uma política a se fazer no país, não é a de erguer estádios à espera das olimpíadas militares (maior que o pan-americano), a copa das confederações, a copa do mundo de futebol e as olimpíadas, atualmente, nossos maiores desafios infra-estruturais de futuro próximo. Se há um desfio é trazer e criar centenas de centros de soluções tecnológicas para o país, descentralizá-los nas regiões e estados, possibilitando que a cadeia de educação - de cima para baixo e de baixo para cima - possa interessar-se por novos padrões e interesses em relação ao conhecimento. Se há algo a fazer é possibilitar, através da isenção plena de tributos, micro, pequenas e médias empresas que atuem com pesquisas científicas, tecnologia de ponta e estímulo à educação, digamos, por um período de duas décadas. Nos anos 80, alguém parece ter dito a Bill Clinton "é a economia, otário", sinalizando que esse deveria ser seu foco político. E funcionou. Será que não é hora de dizermos "é a educação, otários" para todos nós e para diminuir o número de Brasis, os tantos Brasis, até chegar perto de um, integrado? | ||
*Josimar Henrique é Presidente da Hebron Farmacêutica - www.hebron.com.br e do Conselho da ALANAC - Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais - www.alanac.org.br.
E-mail: presidencia@hebron.com.br. | ||
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Joran Tenório, Joranation
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